Raquel Kobashi Gallinati Lombardi e Tania Prado
O dia 26 de junho é o Dia Internacional do Combate às Drogas. Estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1987, a data é um marco contra o narcotráfico e o uso indevido de drogas, cuja dependência química representa uma das mais graves doenças da sociedade moderna, que hoje atinge cerca de 5% da população mundial, segundo estimativas da própria ONU, em seu Relatório Mundial Sobre Drogas.
Em São Paulo e em praticamente todas as cidades médias e grandes do Brasil, o resultado mais cruel do tráfico e do consumo de drogas está visível à luz do dia, na miséria das cracolândias e guetos onde seres humanos se arrastam com o único objetivo de alimentar suas dependências químicas, não importa a qual custo.
Mas essa realidade cruel é a ponta de um iceberg que atinge toda a sociedade, com consequências devastadoras.
As drogas estão presentes em maior ou menor escala nas vidas de milhões de pessoas. Há uma diferença entre o viciado dependente químico, as pessoas que fazem uso abusivo e ainda uma terceira categoria, que faz uso esporádico de drogas.
Para cada caso, existe um tipo específico de abordagem e ação no atendimento ao usuário.
A ação do Poder Público é necessária em todas as etapas, das informações prestadas por professores e familiares, primeira rede de proteção do indivíduo, bem preparados para orientar antes do primeiro contato do adolescente com as drogas, ao tratamento do adicto, por equipes multidisciplinares de saúde.
O consumo de substâncias entorpecentes é um tema complexo, decorrente de múltiplos comportamentos e que pode atingir o usuário em qualquer etapa de sua vida. Ele está ligado a questões diversas, como influência do ambiente, relacionamentos pessoais e, segundo estudos, até mesmo a fatores genéticos.
As drogas, lícitas como o álcool, ou ilícitas como a cocaína, estão na origem de milhares de casos de violência ocorridos diariamente do Brasil. Essa regra vale desde o homem alcoolizado que agride a família em casa, dirige embriagado, atropela e mata, até os tiroteios dos traficantes nas comunidades.
O problema precisa ser tratado preventivamente, na sociedade, e com ações louváveis como as realizadas pela Polícia Federal e a Divisão de Prevenção e Educação (Dipe), do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), da Polícia Civil paulista, que investem em informações e palestras junto a agentes multiplicadores.
Reduzir o consumo quebra a cadeia criminosa que é ainda mais cruel contra os jovens em situação de vulnerabilidade social. Cercados pela pobreza e com a ineficiência do Estado em apresentar rumos possíveis para suas vidas, eles encontram no tráfico de drogas um caminho para escapar da miséria e conseguir dinheiro, alimentando uma nefasta economia subterrânea.
Em todos os casos, da violência doméstica aos jovens aliciados pelo tráfico, quando essa situação chega ao âmbito da ação policial, ela escancara a incapacidade da sociedade em lidar com a questão das drogas.
À polícia, no último estágio do problema, cabe somente o cumprimento da lei.
As drogas, como o Covid-19, são um desafio para a sociedade e, como tal, devem ser tratadas.
É preciso envolver todos na busca por uma solução. Da mesma forma que se ensina o distanciamento social e o uso de máscaras, precisamos ensinar aos adolescentes e aos jovens que existem soluções para seus anseios fora do tráfico e do consumo de drogas.
As imagens do uso de crack a céu aberto e dos milhares de jovens que perdem suas vidas em presídios superlotados, condenados por tráfico de drogas, precisam chocar a população tanto quanto as UTIs cheias de pacientes lutando contra o vírus.
Mais do que uma questão de segurança, as drogas são um desafio de saúde pública. É preciso planejar ações em todas as esferas da sociedade para combater o consumo e o tráfico de entorpecentes.
É fundamental o envolvimento de todos para enfrentar o tráfico, porque sem esse pacto social, diferente do Covid-19, causado por um vírus, a enfermidade social causada pelas drogas e seus devastadores efeitos não vão passar.
Tania Prado, Presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal e ex-coordenadora e fundadora do GPRED-SP, Grupo de Prevenção ao Uso Indevido de Drogas da PF/SP
Raquel Kobashi Gallinati Lombardi, Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo