Suicídio: uma ferida aberta na polícia de São Paulo

 

Raquel Kobashi Gallinati Lombardi

O dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. No Brasil são registrados cerca de 10 mil suicídios todos os anos, o que levou a Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Federal de Medicina a criar, em 2014, a campanha Setembro Amarelo, para prevenir e alertar sobre o problema.

Em números gerais, 96,8% dos casos de suicídio são precedidos por um registro anterior de saúde mental do paciente. Os principais elementos identificados envolvem depressão, transtorno bipolar e abuso de substâncias químicas, como álcool.

Fatores sociais como solidão e desemprego, e a preexistência de doenças graves, também podem ser os gatilhos que levam a pessoa a colocar fim à própria vida.

Mas existe uma estatística que permanece nas sombras, pouco divulgada, em que as vítimas enfrentam seus problemas em silêncio, com medo de serem estigmatizadas, e acabam cometendo o suicídio sem serem ajudadas: os casos entre policiais.

O suicídio é a segunda maior causa de mortes entre policiais no Estado, atrás somente do homicídio durante a folga, muitas vezes durante o conhecido “bico”.

O documento “Uma análise crítica do suicídio policial”, publicado em setembro de 2019 pela Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, em conjunto com os Conselhos Federal e Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, aponta a dimensão do problema.

No estado, a taxa de suicídio foi de 5,0 para cada 100 mil habitantes em 2017 e 2018, período da pesquisa. Na Polícia Civil, esse índice foi mais de seis vezes maior, 30,3. Em números absolutos, foram 78 suicídios nas polícias de São Paulo.

É possível evitar esse problema, desde que identificados fatores de risco presentes no cotidiano da profissão, como o estresse pelo excesso de cobrança, baixa remuneração e pouco tempo disponível para o convívio familiar.

Longos plantões, sobreavisos ininterruptos e o déficit de quase um terço dos policiais na instituição, que sobrecarrega o dia a dia, também colocam uma pressão excessiva sobre os profissionais da Polícia Civil.

O suicídio é registrado três vezes mais entre homens do que entre mulheres e a Polícia Civil é uma instituição onde, ainda hoje, os homens são mais de 75% dos policiais.

Associado à questão cultural de que o homem não deve pedir ajuda sob a rígida ideia de que ele deve ser forte o tempo todo e nunca externar fragilidade, está formado o cenário propício para que policiais tirem a própria vida.

A deputada estadual Isa Penna apresentou o Projeto de Lei 514/2020, que institui o Programa Geral de Saúde Mental das Polícias do Estado de São Paulo e estabelece a indenização em decorrência de suicídio de policial, para que as famílias não fiquem desamparadas.

O programa amplia o acompanhamento psicológico e terapêutico individualizado a todos os policiais paulistas.

O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo apoia esse projeto, que precisa sem implantado o quanto antes como programa de saúde para as polícias.

O suicídio nas corporações é um problema real, que precisa ser debatido e combatido, para que as famílias dos policiais não chorem mais a perda de seus entes queridos, sufocados pelo árduo trabalho de combater de frente as mazelas da sociedade todos os dias.

[1] Ruy Barbosa de Oliveira foi um polímata brasileiro, tendo se destacado principalmente como jurista, advogado, político, diplomata, escritor, filólogo, jornalista, tradutor e orador. Referência. Wikipédia.

[2] Cora Coralina, pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, foi uma poetisa e contista brasileira. Considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras, ela teve seu primeiro livro publicado em junho de 1965, quando já tinha quase 76 anos de idade, apesar de escrever seus versos desde a adolescência. Referência: Wikipédia.

Raquel Kobashi Gallinati Lombardi, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo

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